“Hoje acordei
inquieto.Penso que não havia um motivo aparente para tal situação.Liguei o
computador e busquei em meus vídeos,uma
canção que me fizesse ficar bem,que aliviasse a dor que estava
sentindo...cliquei no vídeo do Al Green-How CanYou Mend a Broken Heart,que é
uma música que fala forte em minha vida e já faz muitos anos...Não consegui
suportar a dor contida naquela linda canção e com os olhos marejados,sai sem rumo
certo,em direção à lugar nenhum,tentando fugir de algo que nem sei se vou
conseguir esquecer...
Em minha
fuga,acabei chegando à praia e apesar de ser fim de semana prolongado,havia
pouca gente na areia.Talvez porque ainda era cedo,ou porque o dia estava
nublado,como o meu coração...Fiquei parado por algum tempo,olhando em direção
ao mar,mas não vendo nada,pois meus pensamentos estavam longe,como na música
que tinha ouvido em casa.Mas,que casa?Quem foge de algo que corrói a alma,que
começa e não tem fim,jamais terá um lugar prá sossegar,prá dizer que é
seu...Estava perdido em pensamentos que me faziam voltar ao passado,como na
canção e em uma frase que alguém colocou em um site de relacionamento,e que
dizia mais ou menos assim;”Ninguém tem coragem de olhar o passado...”!Fico
imaginando como seria a minha vida sem o meu passado...Não consigo,pois metade
de mim é passado e a outra metade é presente,mas que amanhã,também será
passado...E o que fazer disto tudo?
Meu coração
cantarolava a canção e os meus lábios apenas tremulavam o que parecia ser uma
prece...Senti que minhas pernas estavam cansadas e acabei sentando na mureta,que
separa o calçadão da areia da praia.Me lembrei de quando eu era apenas um
garotinho,que nada sabia da vida e que,quando alguma moça,passava por mim e
dizia:Que menino lindo!Vou te esperar crescer e me casar com você!Lembro que
aquelas palavras pareciam ser boas,pois quem estava por perto,sorria...Mas,para
mim,nada significavam,pois eu nem sabia o valor que tinha um casamento...No meu
modo infantil de pensar,casar era apenas morar na mesma casa,dormir na mesma
cama e comer da mesma comida...
Muito tempo
depois,eu aprendi o que é gostar de alguém.Das muitas coisas que a vida me
ensinou,jamais eu havia aprendido o que é tristeza da alma...Quando era
criança,eu chorei por ter apanhado,por ter sido repreendido,ou por me sentir
envergonhado de algo que fiz.Mas jamais havia chorado por sentir tristeza de
alma...É um choro diferente de qualquer um.É mais sentido,é mais profundo e
muito fácil de começar,mas tão difícil de terminar.É um lamento tão íntimo,tão
seu,que ninguém,por mais perto que esteja de você,nada pode fazer...Aqueles que
sabem traduzir a dor em poesia,dizem que este lamento provêm de um coração
partido...
Ainda com a
canção produzindo aquele já tão esperado sentimento de querer,de ter,de poder alcançar o que o seu coração
desejou um dia;sinto vir em minha memória,uma pergunta que Al Green faz ao
cantar a canção:”Como alguém poderá consertar um coração partido?”Ou mesmo
quando faz o pedido:”Me diga,ajude-me a consertar o meu coração pertido,pois eu
só quero viver novamente...Como pode um perdedor,vencer algum dia”?E ele ainda
diz que;”Acredita que tem que sentir como é viver novamente...!”
Começa a
chover e as poucas pessoas que estavam na praia,estão indo embora.A chuva me
molha o rosto e meu corpo sente um leve arrepio de frio,ou é apenas reflexo dos
soluços que saem de dentro do meu coração partido.Eu nem havia percebido,mas já
fazia algum tempo que estava chorando...Agora,minhas lágrimas se misturam com a
àgua da chuva,passam pelo meu rosto,por meu corpo e se perdem na areia,até que
uma pequena onda,a leve para o tão imenso mar...Fico pensando em o que será
destas lágrimas;tão sozinhas,em meio à uma imensidão de àguas,que também se
misturaram tantas lágrimas de outros corações partidos...Penso que,se alguém
passar por mim agora,nem perceberá que estou chorando,pois a chuva faz com que
não haja marcas em meu rosto.Mas,se parar e desejar saber,verá as marcas em meu
coração partido...E como na canção,eu me pergunto: “Pode alguém consertar um
velho coração partido,sem antes machucá-lo um pouco mais?”
Em minhas
lembranças,sei que também parti um coração tão meigo e tão inocente das
artimanhas desta vida...Minhas lágrimas também são por essa dor que eu produzi
na vida de alguém,que não merecia...Eu me pergunto: “Pode eu,consertar um
coração partido por mim?”
Minhas roupas
estão molhadas e minha alma está tão seca.Este contraste é tão idiota,mas mesmo
assim,o faço.Talvez para me punir...Mas penso que;Mesmo que eu nunca
admita,seria mais fácil eu mentir;escondendo a solidão,e sorrir sem ter que
chorar a dor de um coração partido...”
29/04/2012 Nilo
Mendes.