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"Do muito que falou, se perdeu o homem. Mas do pouco que escreveu, aprendeu o menino."
Nilo Mendes

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

“ Sou Eu...!”



    Em minhas andanças por aí,um certo dia cheguei em um vilarejo pequeno e distante a beira da rodovia principal...
    Ninguém sabe como começou as construções daquelas casas ali,naquele fim de mundo.
   O dia ia pela metade quando ali cheguei,estava faminto e sedento,pois havia horas que nada tinha em meu estômago.Minhas roupas,ainda que surradas e de cores incertas,estavam(eu acho) limpas...
   Entrei na única lanchonete que havia,ela se situava na beira da rodovia e era ponto de parada para muitos caminhoneiros.Sentei em uma mesa e fiz o meu pedido,no que fui prontamente atendido e quando estava comendo,entra uma senhor de idade indefinida,por causa das marcas profundas em seu rosto...Suas roupas estavam sujas,rasgadas em alguns pontos,barba enorme por fazer,mas estava limpo.
   Se sentou e fez o pedido.O própio dono o foi servir e ao fazer isso, sentou em sua mesa e ficaram conversando e eu,a tudo assistia do meu canto.
Quando o andarilho acabou de se alimentar,perguntou quanto estava devendo,no que o dono disse que era por conta da casa.Ele agradeceu,pegou as suas coisas e foi saindo da lanchonete...Eu também havia terminado e deixei o dinheiro na mesa.
   O dono da lanchonete seguiu o andarilho  até lá fora e eu também fui em seguida;ele disse adeus e se foi em direção ao sul,pela estrada,andando a pé,como eu estava fazendo à muito tempo...Olhei para o dono como a perguntar o que era aquilo que acabava de presenciar.Era algo que me emocionou como aquele senhor fora tratado naquela lanchonete.Atitudes tão difícieis de se ver hoje em dia...
   Ele,como a adivinhar o que queria perguntar,foi logo dizendo que aquele homem era freguês dele à muito tempo e que ele conhecia a história dele...Eu quis saber e ele me contou que aquele andarilho quis ser um homem bom,bom filho,bom marido,bom pai,bom amigo...Mas,nem sempre as coisas sairam como ele desejou  e um dia ele se perdeu...E nunca mais se encontrou...Dizia  que morreu prá vida,que morreu  pro mundo...
   Voltei-me para o andarilho que já estava distante,quase chegando em uma curva da estrada e fixei meus olhos nele e duas lágrimas rolaram dos meus olhos...Fiquei olhando até ele sumir ao longe,naquela curva.O dono da lanchonete vendo minha emoção naquele instante,me perguntou o porque daquelas lágrimas,se nem ao menos o conhecia...
  Peguei a minha mochila,coloquei-a em minhas costas,agradeci a acolhida e ao seguir andando na mesma direção em que aquele homem havia sumido,virei-me e olhando prá ele,respondi:Há muito tempo  eu me perdi e nunca mais me encontrei...Eu sou igual àquele homem...!”
                                  23/03/2011                                                      Nilo Mendes.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

“ É possível conviver com um lobo?”

    “ Estava frio.Um frio intenso e cortante que fazia com que meus pêlos ficassem duros.O inverno havia chegado tão de repente e neste ano me pegou desprevenido...A noite chegou e com ela,a fome.Era noite de lua cheia,mas como a floresta era fechada,a luz da lua pouco clareava.Estava com fome,pois já fazia dias que não me alimentava.A caça estava à cada dia mais difícil e eu, ficando velho.Não tinha companheira e já estava andando sozinho à alguns anos...Precisava sair do meu território e procurar um novo vale,com mais alimento e que eu pudesse chamar de lar.Me levantei e segui rumo ao sul,procurando um lugar mais quente,pois o caminho seria longo...
    Como fazia frio.A madrugada já estava avançada e minhas patas estavam dormentes pelo frio da neve que caia já havia horas.A fome me atormentava à muito tempo e parecia que minhas entranhas se retorciam por falta de comida.Estava nos limites do meu território e não havia visto sequer um rastro de caça.Subi no alto de uma montanha e avistei ao longe um vale que era cortado por um magestoso rio,que tinha a sua superfície semi-congelada pelo frio e pelas longas nevascas que estavam  caindo já havia alguns dias.
    Fiquei pensando se seria prudente adentrar àquele vale,até então,desconhecido prá mim.Haveria inúmeros perigos e desafios à minha espera,dos quais eu nada sabia.Se ali habitassem uma alcatéia,com toda certeza,eu teria que desafiar o líder para um combate mortal,ou teria de seguir em frente,com o rabo por entre as patas,como um covarde,o que eu não sou...Mas já estava velho e enfraquecido por estar à muitos dias sem me alimentar...
   Meu estômago roncou de fome,como a me obrigar a seguir em busca de comida.Desci lentamente a montanha,me esgueirando pelas àrvores e tentando sentir o odor de urina,que nós machos deixamos nos troncos,como sinal de que este território tem dono.Já havia descido por vários kilômetros e nada tinha percebido que poderia estar em um vale habitado por outros lobos.O que era bom prá mim.Opa,que cheiro é este?E parece vir lá do vale que eu havia visto do alto da montanha e que ficava algumas horas de caminhada.Segui em frente na peculiar curiosidade que somos acometidos.
    Ao me aproximar da origem do cheiro,subi em um platô e de lá pude observar duas cabanas.Uma maior e outra menor e que estavam separadas uma da outra por uma dezena de metros.Da cabana menor saia um canudo de fumaça e era dela que vinha aquele cheiro tão diferente prá mim.Mas era bom estar ali,observando tudo.Novamente senti a fome me atormentar e resolvi procurar uma caça que pudesse aplacar a dor em meu estômago.Andei o resto da moite pela encosta e nada encontrei...Então,voltei para o meu posto de observação...
    Estava cansado e adormeci logo que cheguei.Algum tempo depois, acordei com um barulho diferente,o que me assustou um pouco.olhei para a cabana e em um local mais à frente,estava um homem cuidando de várias ovelhas.Ovelhas tenras e gordas.Carne!Comida!Quase gritei de alegria,por finalmente poder caçar e matar a minha fome.Mas com certeza,teria que passar por aquele pastor se quisesse comer.Estava difícil pensar em cautela,pois a fome era de matar e havia tanta carne a minha espera...Ah,porque a vida é tão complicada!
   A noite chegou e o pastor recolheu as ovelhas na cabana maior e ele as contava uma por uma.As horas avançavam e a luz apagou da cabana menor.Então criei coragem e desci em direção a cabana maior,para ver se de algum modo,pudesse caçar a minha ovelha...Cheguei em frente a cabana e não havia nenhuma brecha por onde entrar.Dei a volta por toda a sua extenção e nada poderia eu fazer para pegar uma ovelhinha.Só uma.Droga de vida!Voltei derrotado para o meu lugar...E com mais fome ainda!Adormeci novamente.
   Acordei por várias vezes,devido a dor em meu estômago e pela manhã,vi novamente o pastor levar as ovelhas para o vale e resolvi seguí-los...O dia já estava pela metade,quando avistei uma ovelha distante das outras.Fui em sua direção,escondido no meio das folhagens.Cheguei perto dela e ataquei.Foi rápido e fácil.Arrastei-a para longe dali e saciei a fome que me atormentava por longos dias.Escondi o resto em um buraco entre as pedras e voltei para o lugar em que eu dormia.Adormeci  rapidamente,pois estava cansado,mas livre da fome e havia guardado comida para mais alguns dias...Estava tudo perfeito!
    Acordei com o barulho que as ovelhas faziam ao entrar na cabana maior e estava vendo o pastor contando-as.A contagem acabou e ele deu por  falta daquela que matei.Ele fechou a porta da cabana e saiu em direção ao vale em que as ovelhas estavam;chamando-a...Resolvi seguí-lo.Ele a chamava e andava por todos os lados,estava preocupado com o desaparecimento dela.Foi quando ele viu as marcas das minhas patas no chão,e seguiu por onde eu havia levado a sua ovelha.Ao descobrir onde eu a escondi,ele deu um grito de dor e chorou por longo tempo...Eu não entendi porque ele chorava por uma que eu matei,se ele possuía muitas...Depois de chorar,ele pegou o que restou dela e enterrou,cobrindo com pedras enormes,para que nada a tocasse novamente.Principalmente eu...
    Voltei para o meu lugar e fiquei tentando entender o porque daquelas lágrimas que o pastor chorou pela ovelha que eu matei.Confesso que não entendi nada,pois jamais alguém chorou por mim,quando um caçador matou toda a minha família...Todos os dias eu via aquele homem chorar e ao mesmo tempo,cuidar com muito carinho das outras ovelhas.Não deixava nenhuma delas se distanciar do grupo.A noite ele as recolhia na cabana grande e as contava.Depois ia dormir,para no outro dia;fazer tudo novamente.Percebi que era bom ser cuidado por alguém que nos ama,a ponto de chorar e lamentar a nossa falta...Queria ser cuidado assim e nunca ter que me preocupar com comida.
    Um dia tentei chegar perto das ovelhas,pois a fome havia voltado.Elas sentiram o meu cheiro e começaram a gritar.Eu pensei que o pastor não me bateria e iria cuidar de mim.Me enganei,pois ele veio prá cima de mim com umas pedras nas mãos e eu fugi rapidamente.De dentro da floresta,vi que ele as contava e como estavam todas vivas,ele as abraçou e levou para a cabana.Me senti sozinho.Eu sempre me senti só,mas daquela vez era de verdade.Era um fato conclusivo!Ninguém me queria por perto.Ninguém gosta de lobos...
    Queria experimentar aquele amor.Queria sentir como era ser alvo de tamanho carinho e cuidado.Mas como fazer para estar  no meio das ovelhas e não ser descoberto?Já sei,vou tentar descobrir o resto da ovelha que eu matei e usar a pele dela como disfarce!Eu preciso tentar!
    Depois de um longo tempo,consegui remover as pedras e retirar a pele do resto de carne que havia sobrado,e ainda que estivesse com fome,não comi aquela carne.Eu estava sofrendo por haver feito aquele homem chorar e eu não desejava mais ser um lobo.Queria mudar...A noite já estava por terminar e resolvi voltar e dormir um pouco,pois queria entrar naquela cabana à noite e descobrir se era bom estar ali dentro...
    Pela manhã,enquanto o pastor levava as ovelhas para o vale,eu experimentei  vestir a pele como capa.Ainda bem que ela era maior do que eu e me cobria por inteiro.Me esfreguei nela o dia todo para que o cheiro de ovelha ficasse em mim.A tarde eu fui ao vale e quando o pastor olhou para o outro lado,eu me juntei  às ovelhas e elas me aceitaram;devido a pele e ao cheiro peculiar.Comecei bem!Eu disse que estava com fome e elas me disseram para comer aquela grama,pois eram o seu alimento natural.Tentei comer.Era horrível!Como alguém pode se alimentar daquilo?Ninguém  trocaria um pedaço suculento de carne por um punhado de capim.Aquilo não tem sabor!Mas eu queria ser amado e se comer aquela grama fosse o preço à pagar,eu comeria...E comi.
    A noite chegou e o pastor nos levou para a cabana e ao entrarmos ele nos contava.Eu havia me esquecido deste detalhe tão importante.Agora eu seria descoberto.Seria morto.E nem teria experimentado aquele amor,aquele cuidado tão precioso...Eu fiquei por último,pois se ele fosse me matar,eu tentaria fugir.Ele me contou e ficou me observando por longos segundos...Depois me mandou entrar.Eu entrei e ele fechou a porta.
   Nossa,como era quentinho ali dentro.Muito diferente de estar do lado de fora.As ovelhas foram se amontando  uma ao lado da outra e se aqueciam melhor.Eu estava gostando muito de estar ali.Sabia que ia gostar de ser ovelha.Apenas o alimento é que estava sendo difícil de aceitar...Fechei os olhos e adormeci rapidamente.
   Acordei pela manhã,com o pastor abrindo a porta e nos chamando para o vale.Ao passar por ele na porta,senti as suas mãos em minha cabeça,em forma de carinho.Foi maravilhoso!Tinha alcançado o meu objetivo de enganá-lo.Seguimos para o vale e começou a minha tortura para alimentar-me de grama.Como era horrível aquele sabor!Eu chorei de fome a tarde toda e a noite,fomos  conduzidos a cabana.Aquela era a melhor parte,pois  na contagem,o pastor me fazia carinho,como a dizer que eu era importante.Queria que valesse a pena morrer de fome,por saber que havia um lugar ali prá mim...
   Os dia e as noites foram passando e eu já quase não conseguia andar,pois estava fraco e faminto.Às vezes delirava e sonhava que estava comendo um suculento pedaço de carne.Depois que acabava de comer,eu chorava por ter feito aquilo...Quando acordava,me sentia aliviado por saber que tudo não passou de um sonho...Eu ainda estava cumprindo o que havia me prometido!
   Numa determinada tarde,ao voltarmos para a cabana,eu cai e não tive mais forças para me levantar.O pastor veio,pegou e jogando-me em seus ombros,levou-me até a cabana menor.Lá dentro era diferente da maior.Tinha cama,fogão,tapetes,mesa e cadeiras.Deixou-me lá dentro e foi contar as ovelhas e depois de fechar a porta,retornou a cabana menor,pegou um pedaço de carne que estava em sua panela,partiu-o ao meio e me deu uma parte.Eu quase não tinha forças,mas o comi.Que delícia!
    Quando acabei de comer,percebi o erro que havia cometido.Ovelhas não comem carne...Olhei para o pastor e ele continuava a comer o seu pedaço de carne.Pensei que se ele me matasse,tudo teria valido à pena.Morreria de barriga cheia e com a certeza de saber o que é carinho,ser querido por alguém.Mesmo que este alguém me mate depois...Fiquei de olhos fechados para não ter de olhar em seus olhos na hora dele desfechar o golpe fatal.O tempo passou e eu abri os meus olhos e o pastor estava me olhando,pois ele já havia terminado o seu jantar à muito tempo...Eu perguntei quando seria a hora em que ele me mataria e ele me respondeu com outra pergunta:Porque eu te mataria?Eu disse que era por ter matado e comido uma ovelha dele e por tê-lo enganado por todos aqueles dias,vestindo a pele da ovelha que eu matei...Ele se aproximou,tirou a pele de ovelha que me cobria e passando as suas mãos em minha cabeça;disse com toda a calma que ele possuia:Eu te vi desde o primeiro dia em que apareceu neste vale,apenas pensei que não conseguiria matar uma das minhas ovelhas.Sempre soube onde era o lugar em que você dormia e ficava observando o que eu fazia com as minhas ovelhas.Confesso que fiquei curioso em saber que você era diferente dos lobos que havia aqui,quando cheguei.Vi o seu desespero guiado pela fome e depois a sua tentativa de se passar por uma de minhas ovelhas e que deixei bem claro prá você,no momento em que as contava.Fiquei tentando te entender,mas acabei fechando a porta com você do lado de dentro.Você achou que eu não reconheceria a pele da minha ovelha?Eu as conheço uma por uma...Fui até o local em que eu enterrei os restos da minha ovelha e constatei que você havia desenterrado tudo.A princípio pensei que era para comer o que restou,mas você só pegou a pele...Voltei para a cabana e vi que estavam todos dormindo.Então fui para a minha cama dormir,sabendo que o mistério seria um dia desvendado.Você não me enganou mocinho...Agora te pergunto:O que você queria conseguir com este teatro todo?
    Estava envergonhado pelo o que fiz,pois vi o quanto o senhor ama as suas ovelhas e senti inveja deste amor.Eu nunca tive alguém que se importasse comigo,a ponto de me deixar aproximar.As pessoas têm pavor de mim,talvez por causa do que faço.Elas esquecem que é a minha natureza de lobo,que me obriga a caçar,a matar para comer.Então,depois que o vi chorar pela sua ovelha que eu havia matado,desejei ter um pouco deste carinho e só tinha um jeito de conseguir isto;me fazendo passar por uma ovelha e somente seria possível,usando esta pele.Foi o que fiz,mas na hora de comer grama,não consegui e fiquei sem comer,mesmo que depois eu morresse de fome...Este é o mistério de que o senhor falou...Agora que sabe,quando vai me matar?
   Ele se levantou e me perguntou:Você deseja morrer?Eu gritei que não,mas como estava fraco,o meu grito saiu rouco.Ele se voltou prá mim e disse que precisava de alguém para ajudá-lo à cuidar das ovelhas.Alguém em que ele pudesse confiar.Caso eu aceitasse,ele deixaria eu dormir na cabana dele e comeria carne de outras caças todos os dias...Duas lágrimas rolaram dos meus olhos,como sinal de gratidão e ele soube que eu havia aceitado trabalhar com ele e que não precisaria mais matar para comer.Pela primeira vez em minha vida,dormi como um justo e sem medo da morte,que sempre me espreitou na floresta...
    Na verdade, aquele pastor era tão sozinho como eu e também estava cansado de matar prá viver.Os homens são iguais aos animais.Se eles pudessem saber nos observar,entenderia que,mesmo matando para nos alimentarmos;matamos apenas o que podemos consumir.Respeitamos a natureza e ela nos respeita.Mas o homem não tem tempo para nos entender.Eles estão sempre em guerra com eles mesmos.Guerra pelo poder,pelo dinheiro em demasia...Se esquecendo de que a morte vem,tanto para uns quanto para outros;sem distinguir entre ricos ou pobres,homens ou animais.Ela simplesmente vem e leva o que deseja...
    Muitos anos se passaram e o pastor,certa noite,depois de um maravilhoso jantar,ele me confessou que era possível conviver com um lobo e que não queria morrer sozinho.Eu entendi que ele queria ter apenas um amigo e eu,consegui muito mais do que um amigo.Achei um irmão,onde ninguém conseguiria encontrar...!”

 24/06/2011                                                                                                                  Nilo Mendes.






domingo, 5 de fevereiro de 2012

“ Tudo vai mudar...!”

    “ Estava tudo escuro.Era  noite sem lua e uma chuva fria caia sem parar por sobre a cidade.Fazia um frio tão intenso que congelava os ossos,caso ficasse parado.Enfiei as minhas mãos  dentro dos bolsos da calça,para que não ficassem endurecidas pelo vento que soprava   como se fossem navalhas a cortarem o meu rosto...
      Continuei a subir a rua,que neste momento estava deserta.Afinal,quem ficaria andando de um lugar para o outro em uma noite como esta?A não ser que fosse uma outra alma solitária como eu,que tanto servia ficar dentro de uma casa ou na rua,pois a solidão não se importa com o frio ou de ficar molhada pela  chuva...Ela só quer companhia e eu estava ali...
      Ninguém gosta de sentir dor ou de ser sozinho,de não ter destino certo ou ser quase nada que nem seja lembrado.Você é o que tem de ser.Não pode ser o que dizem que é.Continuo andando e meus pensamentos me fazem desejar um sonho que de tão distante,parece ser fruto de delírios de uma mente parada no tempo que define toda uma vida...Quero este sonho,preciso dele para continuar vivendo...
     Penso neste sonho e aos poucos ele toma forma em minha mente.No começo é como se pudesse sentir o seu perfume novamente.Posso seguir o seu cheiro sem medo de me perder...Vejo o brilho dos seus olhos que como um farol,me guia na direção certa até me aportar em um porto seguro,que é o seu colo.Sinto que sorri para mim em uma demonstração de poder,onde o seu corpo se encontra com o meu em uma dança tão antiga como a vida e ouço  a sua voz me dizendo que tudo vai mudar...
     Por um instante pensei ser tudo real.Ainda sinto o seu calor me aquecer,tenho em minhas mãos  o cheiro do seu corpo e sinto o bater acelerado do meu coração a confirmar que estava aqui...Pois era assim que eu ficava,quando de mim se aproximava.Olho em volta e percebo que estou só e mais molhado do que antes.Não sei por quanto tempo fiquei parado no meio da rua sentindo a sua presença.Acho que tudo parece ser delírios de uma mente perturbada pela falta de você...Ou não?
    Sigo em frente e olho as casas todas fechadas.Todos estão dormindo em suas camas limpas e quentes e eu,ainda estou andando neste frio intenso e cortante,como a me castigar por uma ato de insanidade.Meu coração ainda bate tão forte como se você estivesse aqui e posso ouvir a sua voz me dizendo que tudo vai mudar...Ela ecoa em meus ouvidos castigados pelos açoites do vento,que teima em assoprar sobre mim.
    Ao longe avisto uma luz.Estou cansado de andar sozinho neste frio.Bato à porta e ela se abre me trazendo um calor aconchegante que vem de dentro...Abro os olhos e vejo o seu rosto lindo,sua boca ensaiando um sorriso ao abrir os braços e dizer que sou bem vindo,que tudo vai mudar...Eu sei que tudo vai mudar...

04/06/2011                                                                                            Nilo Mendes.