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"Do muito que falou, se perdeu o homem. Mas do pouco que escreveu, aprendeu o menino."
Nilo Mendes

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

“ De muito longe...”


    “ De muito longe, vem o som de uma voz que à muito tempo não  ouvia.Ela vem de dentro do meu peito,rasgando o véu do tempo,me fazendo enxergar tudo em brumas,como a ter meus olhos em lágrimas...Estou andando como sempre faço e ao mesmo tempo,me perco no tempo em que eu e você éramos um só coração à bater no auge da vida...
      De muito longe, vem uma canção a me dizer que na minha memória,mesmo que o tempo e a distância sejam como uma muralha à esconder o que mais desejo ter;tenho-te o tempo todo.A nossa mente é como um disquete em que você armazena o que nos acontece na vida em si e que,na hora em que desejarmos,podemos trazer à lembrança,os momentos em que fomos felizes.
     De muito longe,vem um grito,um lamento que ecoa tão distante e talvez por toda a eternidade...Este grito ecoa dentro de mim,dizendo que o mais importante é o amor,pois o resto se perdeu nas palavras ditas em dias de fartura de sentimentos...Na época em que nada temos em nossos corações,fica difícil segurar a barra e tão fácil sair andando...
     De muito longe,vem uma nuvem branca e esta nuvem simboliza os sonhos meus que se perderam de mim um dia...Quando olhar para o céu e nele enxergar uma nuvem branca,saiba que são os meus sonhos e se fixar a mente no que vê,entenderá   em segundos,a minha solidão e de como seguirei perdido...Me perdi dos sonhos porque sonhar me foi negado por não ter direitos sobre o que desejo;você!
     De muito longe,vem um lamento dizendo que sou como um pássaro livre em uma prisão.Posso ir para onde quiser,a hora que desejar.Só não posso ter você,não posso ter o seu amor...Onde irei?Para quem irei?Não desejo esta liberdade privada,mas nunca me perguntaram  se aceito o que me impuseram.E mesmo assim,ainda posso ouvir o lamento dizendo que sou um pássaro livre em uma gaiola,onde a porta está sempre aberta para o nada...
     De muito longe,de dentro da minha alma,vem uma lágrima tão solitária que teima em sair do meu olhar, só prá me dizer que sente uma dor que não é minha,pois eu  não a tinha antes de te conhecer, e como diz a canção:as cartas estão na mesa,verdades,franquezas serão ditas...,pago dobrado um alto preço por ter um dia, aberto para você,meu coração que a mim prometi manter fechado,pago dobrado e perco calado...
     De muito longe,vem o vento me dizer que mesmo sabendo,que te perder ,perco muito mais do que sou...Mas eu sou assim.Penso sempre no amanhã,que um momento de paz virá em minha direção...De muito longe,vem a certeza de que o amanhã espera por nós em uma curva qualquer de uma estrada sem fim...
    De muito longe,de um lugar que nunca fui,chegará em sua mente o que sempre fui e serei para sempre.Terá em si uma certeza;eu não mais estarei aqui...de muito longe,ficará apenas o que você me teve ao te ofertar amor.De muito longe,eu vou seguindo o meu caminho...!”
  27/05/2011                                                                                   Nilo Mendes.

domingo, 18 de dezembro de 2011

“ Poderes e direitos!”


    “ O meu nome não tem valor e nem a minha vergonha será lembrada por quem deveria ou que tenha visto ou ouvido falar de mim.Apenas possuo algo que me marcará por toda uma vida;a cor da minha pele.Eu era um escravo-livre e hoje sou um fugitivo em busca de uma tal liberdade.Diziam que eu nasci de um amor e fugi por causa de  outro amor...E já fazem  muitos anos.Acho que foi à muito tempo atrás...
     As coisas que aqui vou relatar,são apenas frases que em minha adolescência consegui ouvir das mulheres que serviam na casa grande e que,depois de tanto tempo vagando pela floresta,sobre forte delírio da febre,consegui formar a minha história,na presença da minha mãe e de uma companheira chamada solidão.
    Minha mãe é linda.Uma formosura de mulher e que foi alvo da cobiça do coronel,dono da fazenda e de muitos escravos.E eu nasci deste amor.Amor que a sociedade da época desprezava no convívio social,mas que por “debaixo dos panos”,desejava e prá que isto acontecesse,usava da força e da violência;pois tinham poderes e direitos sobre a vida de muitos homens,mulheres e crianças.Por causa da cor de suas peles...
    Eu fui criado entre a casa grande e a senzala.Era uma vida boa e eu tinha alguma liberdade em andar pelas terras,desde que eu havia cumprido as tarefas do dia...A fazenda era enorme,diziam que um homem poderia andar  nela em linha reta por vários dias e mesmo assim,ainda estaria dentro de seus limites.Até onde eu consegui ir,pude notar como era linda aquelas terras.Depois de uma grande montanha,poderia avistar um grande rio.Eu o observei por alguns minutos e vi que ele sumia por entre as montanhas,ao longe...Estava maravilhado,mas já estava na hora de voltar prá fazenda e a distância que havia percorrido era longa.Então,comecei a voltar.
   De toda a maravilha que era a fazenda,ainda havia um lugar que eu tremia de medo só de passar por perto.Era no pátio principal da fazenda que ficava este local de tristeza,de dor,de ódio e injustiças.No centro do pátio haviam fincado um tronco de 3.00 metros de altura e por 0,65 centímetros de circunferência.Era neste tronco que todo escravo sofria o seu castigo.Não havia lógica no castigo;se estivesse doente ou fraco e não rendesse na lavoura,por reclamação,por perdir mais comida...Ou simplesmente por que o dono desejasse.o desafortunado era amarrado ao tronco,sua camisa tirada e sob as vistas de muita gente,recebia algumas chibatadas nas costas.Alguns morriam,mas ninguém se importava,Éramos apenas escravos.A noite eu tinha pesadelos,pois em meus sonhos eu ouvia os gritos de dor de quem sofria o castigo.Este local era o único na fazenda que eu não gostava.
    O tempo  passou  e eu havia completado 15 anos  naqueles dias.Eu pouco via a minha mãe durante o dia,pois ela trabalhava na cozinha da casa grande e era raras as vezes em que nós poderíamos nos falar.E foi em uma destas ocasiões,que ela me disse que o motivo de toda a agitação que estava acontecendo na casa grande,era porque uma sobrinha da esposa do coronel estava prá chegar da cidade grande. (ele é o meu pai,mas eu sempre o chamei assim,pois ele nunca havia me chamado como filho e nem me ensinou a chamá-lo de pai).
    Era pouco mais do meio-dia quando uma charrete cruzou a entrada da fazenda e parou em frente a escada que dava acesso à porta principal.De dentro da charrete saiu a mais linda menina que meus olhos já tinham vistos.Seus cabelos negros e compridos emolduravam um lindo rosto,que pareciam terem sidos esculpidos pelas mãos do mais renomado escultor.Os seus olhos pareciam duas jabuticabas e no instante em que eles me fitaram,comecei a tremer como se estivesse febril.Percebi que estava me perdendo naqueles olhos negros...
    Sempre que eu passava por perto da casa grande,eu tinha a sensação de que ela me olhava escondida por trás das cortinas.Não sei porque,mas eu ficava feliz.Uma semana depois,ela finalmente veio falar comigo.Eu lhe perguntei sobre as sensaçôes  que eu tinha e ela confirmou que me olhava todos os dias.Depois,eu peguei em suas mãos e trocamos o meu primeiro beijo.Foi algo inexplicável.E muito bom.Até que descobriram e contaram para o coronel...
    Eram quase meio-dia quando me levaram para o pátio.Amarraram as minhas mãos em volta do tronco,tiraram a minha camisa e esperaram que todos viessem ver o meu castigo.Mesmo estando paralizado pelo pânico,pude ouvir alguém dizer se o coronel teria coragem de castigar o próprio filho,mesmo sendo com uma escrava.No meio do medo,por estas palavras,comecei a a ter esperanças de sair dali ileso...
    O coronel chegou e trouxe com ele a sua esposa e a minha princesa branca.Fechei os olhos,pois senti vergonha por ela me ver amarrado naquele tronco.O coronel chegou perto e disse para o capataz dar 20 chibatadas,pois eu era forte e não morreria.E as marcas que ficassem em minhas costas,serviriam como exemplo para que nós nunca esquecêssemos de onde era o nosso lugar.Minhas esperanças foram dissipadas por suas palavras,ditas em cima do poder e dos direitos que ele tinha sobre mim...
    Fechei os olhos e apertei a minha boca para não dar a ninguém,a satisfação de me ver gritando.A primeira chibatada veio sem dó e sem piedade.fez um corte em minhas costas.Eu as contei até a décima e depois não vi mais nada.Acordei quando a noite já havia chegado e minha mãe estava passando um tipo de unguento nas feridas.Ela chorava.Eu sabia que ela sentia a minha dor.Estava com sede e ela me deu água.Ela me disse que a ordem era para que ninguém me tirasse do tronco até a tarde do dia seguinte.Ela se levantou e foi em direção à casa grande,mas antes havia me deixado uma linda faca de caça,que pertencia ao coronel.
    A noite estava no seu auge e todos estavam dormindo,inclusive o sentinela.Ele dormia sempre.Estava acostumado.Cortei as cordas que prendiam os meus pulsos.flexionei as minhas pernas,pois fazia muito tempo que elas estavam dormentes.Fui em direção à casa grande e entrei na cozinha,onde a minha mãe já estava com um saco cheio de mantimentos, algumas roupas e seus objetos pessoais.Fui até a sala de armas,peguei duas pistolas,duas cartucheiras e muita munição.Fomos ao estábulo,selei dois cavalos e saimos pelos fundos da fazenda,em direção a liberdade...
    A manhã já ia alta,e graças à Deus,havíamos colocado uma grande distância entre nós e a fazenda.Paramos apenas por uns minutos para comermos e saciarmos a sede.Quando a noite chegou,fomos obrigados a nos escondermos para passar a noite,visto que não conhecíamos o lugar em que estávamos e eu estava com muitas dores e com febre,devido as feridas em minhas costas.Minha mãe preparou a refeição e depois cuidou das feridas.Senti um grande alívio e logo em seguida,adormeci.Andamos por mais dois dias e chegamos em um lindo lugar.Era um pequeno vale,cercado por três montanhas e cortado por um riacho de águas cristalinas e cheias de peixes.A terra era fértil e não passaríamos privações,pois minha mãe trouxe sementes de milho,feijão e arroz.Havia caça em ambundância.Resolvemos ficar por ali.Uma semana depois,tínhamos construído a nossa casa de pau-à-pique.Não era como a casa da fazenda,mas aquela era nossa!
    Dez anos se passaram e muitas vezes eu voltei até as proximidades da fazenda.Eu sempre deixava o cavalo amarrado em um monte e ficava observando o corre-corre da fazenda.Nunca senti saudades dos tempos que morei lá.Um dia eu desci à vila para trocar peles por mantimentos e fiquei sabendo que a minha princesa havia ido embora prá cidade,poucos dias após o ocorrido.Eu nunca mais soube dela.Sinto uma dor no peito ao lembrar-me dela.É um sentimento estranho.É como se houvesse perdido algo.Sei que um dia vai passar,como tudo passa nesta vida.Venho quase todos os  meses aqui,vejo tudo o que um dia será meu,por direitos,mas sem poder.Minha mãe,quando saímos da fazenda,entrou no escritório do coronel e pegou uns documentos que atestam que sou filho dele,além da carta de auforria dela.Eu já nasci livre,pela lei,mas sempre serei escravo de alguma coisa nesta vida.Tenho toda a liberdade onde moro com minha mãe e somos felizes ali.Não precisamos de mais nada para vivermos bem.
    Fico sempre observando o que um dia será meu.Imagino com alegria o dia em que abrirei as portas da senzala,dando a liberdade à todos que um dia foram privados dela,por homens inescrupulosos,amantes de si mesmo e do poder.Homens que esqueceram que um dia vão ficar frente-à-frente com Deus e terão de justificar tudo o que fizeram e vão saber  que o dinheiro e posses,não dão poder à ninguém de subjugar à quem quer que seja,por ter em sua pele uma cor diferente...Por isso,eu venho aqui e fico obeservando tudo isso,que um dia será meu por direitos,mas sem poder...!”

29/06/2011                                                                                                               Nilo Mendes.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

“ Eu não quero falar sobre isso...”


   “ Eu não quero falar sobre isso,mas posso dizer pelo que vejo em seus olhos,que você provavelmente esteve chorando...Talvez por algo que ficou no passado,sem ser resolvido.E não importa o tempo que passou ou que ainda vai passar.O passado vai estar sempre lá,parado,naquele mesmo espaço de tempo em que você me deixou e se foi,sem olhar para trás.Se você se virasse ao menos um pouquinho,veria os meus olhos se encherem de lágrimas,por eu estar em um tempo de total desamparo e sem poder algum para fazer com que você me aceitasse como eu era.
    Eu não quero falar sobre isso,mas eu posso te dizer que se você se virasse e não conseguisse enchergar os meus olhos e visse o meu coração,jamais teria ido embora.Porque você jamais saiu dele um instante sequer.E ainda que viajasse o mundo todo,vivesse uma outra vida com alguém,você jamais saiu daqui,de dentro do meu peito.Se você tivesse se virado um pouquinho,a minha história seria igual a sua;nem mais e nem menos,apenas iguais nesta vida tão especial para quem  sabe o valor de um amor verdadeiro.
    Eu não quero falar sobre isso,mas eu posso te dizer que,mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas,eu pude ver a noite chegar e desejei que você,pelo menos olhasse para o céu e tivesse visto o brilho das estrelas,mas penso que naqueles momentos de ida sem volta,o brilho das estrelas nada significariam prá você,caso também estivesse chorando,por ter machucado o meu coração,que eu te dei um dia,para que cuidasse dele e não ferí-lo...
   Eu não quero falar sobre isso,mas eu posso te dizer que o brilho das minhas lágrimas nas noites sem lua,são espelhos refletindo no seu céu,o meu desejo de te ver sempre linda e feliz...Mesmo não esquecendo do jeito que partiu o meu coração.Ainda te vejo indo,sem olhar prá trás.Apenas indo...
   Eu não quero falar sobre isso,mas posso te dizer que se virasse por apenas um momento,você conseguiria ouvir o meu coração?Ouviria o seu chamado,enlouquecido pelo dor?Ouviria o seu lamento ecoando por uma vida à dois,que ele havia sonhado para nós?Mas,porque ainda sonho com o que eu não quero falar,se o brilhos das estrelas nada significam para você,ou elas são apenas reflexo das nossas lágrimas?
    Eu não quero falar sobre isso,mas se eu ficasse aqui,apenas um pouco mais,você conseguiria ouvir o meu coração?Eu fiquei por muito tempo ali,por muito mais tempo,mesmo depois que você havia sumido na distância,sem olhar prá trás...Eu fiquei por muito tempo,na esperança de você ouví-lo e voltar,me dizendo que tudo ia ficar bem.E eu permaneci ali,completamente sozinho,até que as sombras do silêncio,vieram e esconderam as cores dos meus olhos e fizeram calar o grito do meu coração...Ah,ele não grita mais,apenas murmura o seu nome,todos os dias,até que você volte e cuide dele prá mim.
   Eu não quero falar sobre isso,mas eu falei,pois de tudo,o que restou foi a minha voz...”

13/06/2011                                                                                                 Nilo Mendes.