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"Do muito que falou, se perdeu o homem. Mas do pouco que escreveu, aprendeu o menino."
Nilo Mendes

segunda-feira, 12 de março de 2012

“ Não há limites para amar...!”


   “ Em uma linda tarde de domingo,estava eu em casa,tentando achar algo que pudesse fazer voltar,a vontade de me sentar em frente ao computador e escrever algo novo.Precisava encontrar algo que me motivasse.Estava cada dia mais difícil...
    Eram quase 21:00,quando o telefone tocou.Era um amigo que fazia muito tempo que não nos falávamos.A vida nos fez cada um seguir em uma direção diferente,mas a amizade continuou e eu nunca troquei o número do meu celular;daí a confirmação do que eu sempre pensei ser verdade:”Toda a água que passar por sob uma ponte,um dia,poderá tornar a passar novamente...”.Carlos,este é o nome do meu amigo,me disse que em uma de suas andanças pelo interior de Minas Gerais,ficou sabendo de uma conversa de botequinho,que no sertão,lá nos confins das montanhas,havia um homem  que morava sozinho e que quando descia na cidade,falava apenas o nescessário e ao terminar de comprar querosene e sal,voltava de onde vinha.Um homem tentou seguí-lo,mas seus rastros haviam se perdido,quando ele entrou em um córrego.Este homem voltou sem muito o que falar,e a fama do eremita cresceu na cidade.Todos falavam do misterioso homem.Carlos gostava de escalar e fazer trilhas.Era rico e sempre tinha tempo para fazer o que mais desejava e numa destas viagens para escalar,foi parar na cidadezinha do tal homem das montanhas...Ele ainda me disse que se lembrou do quanto eu gostava destas histórias e resolveu me ligar.
    Fiquei interessado e ele me passou a localização e o nome da cidade.Agradeci e marcamos um almoço para quando eu voltasse da minha caçada  ao misterioso homem das montanhas de Minas Gerais.Peguei uma mochila,enfiei nela algumas roupas,o meu gravador com as devidas baterias,vários bloquinhos e alguns lápis para escrever...Estava tão impaciente para chegar  na cidade do homem,que nem tive dúvidas e me coloquei  na estrada.Havia milhares de kilômetros para percorrer e dirigir à noite era o que eu mais gostava de fazer,pois depois de certas horas,a rodovia ficava toda prá mim.Eu sempre gostei de dirigir sozinho,sem o barulho horríveis das buzinas...
    E lá estava eu e aquela pista enorme e solitária só prá mim.Pisei mais fundo no acelerador e as paisagens iam passando por mim,numa velocidade acima do normal.Estava com pressa de chegar e sentia que algo novo poderia surgir nesta viagem rumo ao sertão da minha Minas Gerais...
     O dia já havia amanhecido,quando eu parei em um posto de gasolina para abastecer o carro e como estava com fome,resolvi tomar um café e comer algo,pois saco vazio não para em pé...Meia hora depois,estava novamente na estrada.Não via a hora de chegar na tal cidade...Coloquei um cd no rádio e começou a tocar uma música que me fez lembrar de você.Não sei porque,mas ainda sinto a sua falta...
    Já era noite,quando cheguei  na tal cidade.Parei no único posto que havia,pedi ao frentista que enchesse o tanque e enquanto ele fazia o seu serviço,perguntei se havia um hotel no qual eu pudesse me hospedar por uns dias.Ele sorriu e disse que não poderia haver um hotel naquela pequena cidade,que mais parecia uma vila.Eu concordei com ele,mas em pensamentos...Ele,depois de encher o tanque e de ter recebido,me indicou uma pensão que serviam café,almoço e jantar.Estava perfeito...
    Entrei na pensão e me achei em um ambiente familiar.Uma senhora veio me receber e pedi um quarto por duas semanas.Paguei adiantado,pois não sabia o que poderia me acontecer em um lugar estranho e no qual eu havia me proposto seguir um homem mais estranho ainda.Era uma loucura,mas eu estava ali né?Fui para o meu quarto,tomei um banho e desci para jantar.Havia chegado tarde,mas a senhora me abriu uma deliciosa excessão e me serviu um maravilhoso jantar...
    Ela me perguntou o motivo da minha visita àquela vila e eu respondi que estava em busca do estranho homem das montanhas.Eu escrevia histórias e achava que se conhecesse o tal homem,poderia encontrar algo novo para escrever.Ela revirou os olhos,como a me dizer que eu havia perdido o meu tempo,pois ninguém jamais trocou meia dúzias de palavras com o tal homem...Mas ela ainda disse que o tempo era meu e o dinheiro gasto também,portanto,me desejou sorte...Levantando da mesa,começou a recolher os pratos,eu agradeci e fui dormir,pois amanhã seria um outro dia...
   Na manhã seguinte,após o café,resolvi conhecer a vila e os seus moradores.O que não foi muito difícil,pois a maioria já haviam visto a placa do meu carro e sabiam que alguém de outro Estado estava  na vila.Em poucas horas já tinha conhecido quase todos e eles estavam sabendo o que eu vim fazer ali.Todos me desencorajaram.Menos o dono da mercearia,pois ele queria que eu comprasse tudo o que eu poderia precisar para seguir o tal homem...Ele me alugou um cavalo e me vendeu alguns utencílios de acampamento.Estava tudo preparado para quando o tal homem aparecesse.Eu tive muita sorte,pois ele veio dois dias depois da minha chegada.Ao ser avisado,verifiquei se estava tudo dentro da mochila,inclusive o binóculo infra-vermelho que ganhei e que me seria muito útil.Me despedi da senhora e fui em direção à mercearia.Da esquina da rua,avistei o cavalo que tinha alugado e que já estava todo equipado a minha espera...Entrei na mercearia e pude finalmente ver o homem das montanhas.Ele estava de costas prá entrada e ele não me viu,então pude observá-lo sem ser percebido.Era de estatura média e muito magro,suas  roupas,apesar de estarem limpas,eram surradas ao extremo e estava descalço.Me sentei em uma mesa perto da porta e pude vê-lo em ação,fazendo a sua compra de sal e querosene.Desta vez,ele comprou munição para sua espingarda de caça...Quando ele se virou para sair,vi o seu rosto.Ou melhor,quase vi,pois ele estava coberto por uma longa e espessa barba e os seus cabelos também eram compridos.Os seus olhos eram diferentes.Eram negros e não havia brilho.Ele me olhou diretamente e eu não fugi ao seu olhar.Ele parou por um instante e seguiu rumo à porta...
    Da janela eu pude observá-lo por mais um espaço de tempo.Ele colocou tudo o que havia comprado em cima da sua mula de carga e puxando-a pelas rédeas,foi subindo a rua em direção as montanhas...Todos estavam de olho em mim.Queriam ver a minha reação.Eu me virei para eles e disse;Finalmente eu o conheci e agora vou seguí-lo.O dono da mercearia me disse que tudo estava pronto e em cima do cavalo,mas que se eu quisesse ir atrás dele,teria que ir logo,pois caso contrário,perderia ele de vista ainda dentro da vila.Todos riram da piada,inclusive eu...Fui prá fora e montei no cavalo,o que eu fazia muito bem,pois nasci em uma fazenda.
    Segui em frente,deixando uma boa distância entre eu e o tal homem.O dia já ia pela metade e nada do homem parar para comer e eu estava morrendo de fome,pois nem tinha tomado café.Foi neste momento que eu peguei o binóculo e vi que ele comia e bebia enquanto andava.Safado e esperto.Procurei no saco de alimentos que o merceeiro me preparou e tinha vários biscoitos e uma garrafa de café.bendito homem.Teria de agradecê-lo quando voltasse.Se voltasse...
     A noite chegou e eu o perdi de vista,pois nada conhecia do local e não se enxergava um palmo à frente do nariz.Me aproximei de umas pedras e apeei do cavalo.Tirei a sela de cima dele,dei um pouco de água e o amarrei em uma árvore para pastar.Montei a minha barraca,o que foi dificílimo,pois estava muito escuro.Cavei um pequeno buraco na terra,circundei-o com pequenas pedras e acendi uma fogueira para me esquentar e afugentar qualquer tipo de animal que pudesse existir ali.Comi o resto dos biscoitos e tomei mais um pouco de café.Antes de dormir,tomei nota de tudo o que tinha acontecido durante o dia e depois fui dormir.O que demorou para acontecer.Não posso dizer se era pelo cansaço,pois fazia muito tempo que não cavalgava ou pela raiva de ter perdido o meu amigo de vista.Nossa,eu estava cansado mesmo,pois estava até chamando aquele estranho homem de amigo.Um homem que eu nunca havia visto e nem trocado sequer uma palavra.Eu adormeci pensando no jeito em que ele havia me olhado.Era o olhar firme de alguém cansado de ver as coisas...
     Ao acordar,senti muito mais do que percebi,que havia algo muito errado.Me levantei e sai da barraca e pude constatar que o safado,durante o meu sono,me roubou tudo o que eu tinha trazido da mercearia,até o cavalo ele levou...Só não me roubou a mochila e as minhas coisas pessoais,pois estavam comigo,dentro da barraca.Safado!Bom,não adiantava eu ficar xingando e eu precisava era dar um jeito na situação.Desmontei a barraca e a coloquei em minhas costas,junto com a mochila.Olhei com atenção o terreno em volta e vi que havia rastros,resolvi seguí-los.Quase duas horas depois,a fome e a sede estavam me matando,se não bastasse a raiva que estava sentindo e o pior seria voltar de mãos abanando na vila,literalmente de mãos abanando...Safado!
      A noite chegou e eu já nem sabia mais o que era estar cansado,com sede ou com fome.Continuei andando e de repente,comecei a cair.Estava escuro e eu cometi o erro de não parar.Talvez fosse a fome,ou a sede que aliadas ao cansaço,me fizeram deixar de pensar...Como estava caindo morro abaixo,me coloquei na posição fetal e protegia a cabeça com as mãos...Enquanto rolava,nada via,apenas senti que batia em algumas coisas e em dado momento,senti uma dor aguda,pois bati as costas em um tronco.Gritei de dor e não vi mais nada...
     Despertei sentindo um cheiro tão delicioso de toucinho frito.Por um momento pensei estar ainda na pensão,mas logo percebi que estava enganado,pois ao me virar para me levantar,senti uma forte pontada  nas costelas e urrei de dor e apaguei novamente.Quando acordei ,apenas abri os olhos e pude ver onde estava...Confesso que não gostei do que via...Estava dentro de uma caverna,iluminada apenas com o fogo que saia de um fogão à lenha,que ficava em um canto.E para minha completa surpresa;quem estava cozinhando era o homem à quem eu perseguia...
     Fingi que ainda estava inconciente e aproveitei para observá-lo melhor,pois não tinha noção alguma de como as coisas iriam se desenrolar a partir dali.Minutos depois ele se aproximou de onde eu estava deitado e me deu um prato de feijão com toucinho.Nada falou e eu apenas agradeci e comi,pois estava faminto.Ele comeu em um canto afastado de mim e em seguida saiu prá fora.Enquanto isso pude constatar que ele passou um pano em volta do meu corpo,fazendo pressão em minhas costelas.pela dor que eu sentia ao respirar mais forte,percebi que havia fraturado algumas costelas,mas nada além disto.O que era muito bom.O homem retornou somente à noite e novamente cozinhou e me deu comida.Em seguida,adormecemos.
    Na manhã seguinte,após o café,ele se aproximou de onde eu estava e me pediu desculpas por ter me tirado os meus pertences.A sua voz era meio lenta,como se ele fizesse um esforço para falar.Eu perguntei porque ele fez aquilo e a resposta me deixou sem jeito,pois ele disse que desde a saida da cidade,havia percebido que eu o seguia.Fiquei olhando prá ele e falei que não entendi o porque dele ter deixado,que a minha forjada perseguição chegasse tão longe.Ele sorriu e pude perceber que havia poucos dentes em sua boca...Ele disse que sentiu respeito por mim,quando  me olhou,ao sair da mercearia,pois eu não abaixei os olhos como todos faziam na cidade e não o encaravam por medo...Ele ainda me disse que percebeu que eu não era da cidade e esperava que eu desistisse  de seguí-lo nas primeiras horas.Como isto não aconteceu,ele deixou que as circunstâncias seguissem o seu rumo.O que ele fazia à muitos anos...Depois deste longo diálogo,pois pelo que me disseram e eu havia percebido na mercearia,ele  não falava quase nada,apenas o nescessário,ele saiu...
    Algumas horas depois,ele chegou na entrada da caverna e  me chamou.Eu me levantei com dificuldades e o segui.Entramos em outra caverna e numa das paredes,havia alguns desenhos feitos com carvão...Eram  em sequências e no primeiro,havia um casal e a mulher estava grávida.Em seguida,a mulher estava em uma mesa de cirurgia e o homem tentava operá-la,mas algo pareceu dar errado,pois no desenho seguinte,tinha duas sepulturas;uma maior e uma outra menorzinha e de frente,o mesmo homem estava de pé e parecia que chorava...
    Olhei para o meu anfitrião e vi que ele estava chorando.Não sei porque,mas também chorei...Ficamos ali por muitas horas.Tinha vários desenhos e culminavam com a chegada do homem àquelas montanhas e por fim,nas cavernas.Imaginei que havia muita dor naquela história gravada nas pedras por um pedaço de carvão.Percebi um movimento e vi o homem se afastando.Resolvi seguí-lo e voltamos para a caverna em que ele morava.Ele fez o jantar em silêncio e depois de comermos, sentou-se perto de mim e disse que era médico em Belo Horizonte e depois de dois anos de casado,sua esposa ficou grávida de uma menina.Ele dizia isto e seus olhos brilhavam na semi-escuridão da caverna que nos envolvia.A narrativa prosseguia e nos primeiros meses,a gravidez foi bem,mas nos dois meses finais,houve complicações e ele havia feito de tudo para salvar a vida das duas pessoas que ele mais amava.Todo esforço foi em vão.As duas vieram a falecer.Depois de enterrá-las,ele pediu demissão do hospital  em que trabalhava,vendeu a casa e saiu pelo interior de Minas Gerais e depois de torrar quase todo o seu dinheiro,veio prá estas montanhas e somente aqui,na solidão que somente os que sofrem se impôem,encontrou um pouco de paz...
     Depois de me falar a sua história,ele ficou me olhando por um longo tempo.Sustentei o seu olhar e afirmei mais do que perguntei,se as gravuras  que ele fez nas pedras da caverna,retratavam a sua vida.Ele confirmou e foi dormir.Confesso que fiquei triste com o que ouvi e senti as minhas lágrimas sairem dos meus olhos,como uma cachoeira...Fiquei assim por muito tempo,pois lembrei-me do Nicholas,meu primeiro filho,que perdi por incompetência médica e que por misericórdia divina,minha esposa não perdeu a vida também.O que não foi o caso dele...Ainda chorando,adormeci...
    Os dias foram passando e parecia que enquanto as minhas costelas saravam,a amizade crescia entre nós e percebi que o dr. Antônio,este era o nome do homem das montanhas,gostava de conversar e uma tarde ele me perguntou o que eu fazia naquelas paragens e qual era a minha real intenção ao seguí-lo.Estávamos sentados em umas pedras,do lado de fora da caverna e eu lhe disse que era escritor e que um amigo meu,quando estava escalando  naquelas montanhas,ficou sabendo que havia um homem estranho que habitava nelas e que ninguém sabia quem era ele.E como eu gostava de mistérios,ele me ligou e eu vim parar naquela cidade,na esperança de encontrá-lo.O que aconteceu né?Ele concordou com a cabeça e novamente ficou em silêncio.
    A noite,ele estava deitado e me perguntou se eu ia escrever um livro sobre ele.Fiquei por alguns minutos sem responder,pois sabia que o momento era delicado e eu jamais escrevi sobre a vida de alguém.Bom,pelo menos não tão direto assim...Pesei bem as palavras e disse que a minha intenção era esta,mas que,pelas pessoas envolvidas na história,eu não teria o direito de escrever nada.Penso eu que a sua vida já passou por vários estágios de sofrimento e eu não desejo causar mais um dano,escrevendo sobre a sua família.Ele nada respondeu e eu dormi em seguida...
    Na manhã seguinte,depois do café,ele sumiu o dia todo e retornou só a tarde.Eu estava sentado na s pedras que ficavam do lado de fora da caverna e depois de ter ficado um tempo lá dentro,ele veio se juntar à mim.Ele disse que passou o dia na caverna das gravuras e que se eu havia me esforçado tanto para tentar encontrá-lo,deveria escrever sobre a vida dele e da sua família.Apenas me pediu que jamais mencionasse  os nomes deles e o local em que ele morava.E que eu o visitasse,trazendo um exemplar do livro em que eu narrava a sua história.Eu olhei prá ele,me levantei e o abracei como uma amigo abraça o outro.Estava agradecido à Deus por ter conhecido alguém tão sofrido e ao mesmo tempo,tão magnânimo.Entrei na caverna,peguei o gravador e ao voltar para as pedras,começamos a gravar os acontecimentos da vida do dr. Antônio,da cidade grande até aquelas montanhas...
     Dois dias depois eu pedi à ele que queria ver as gravuras novamente,para fotografá-las e em cada capíulo que eu escrevesse,colocaria a gravura devida no começo  da página.Ele entendeu e me deu permissão para entrar na caverna,mas que ele não estaria presente,pois teria que verificar algumas armadilhas que ele colocou no rio,para que pudéssemos comer peixes no jantar.Ele saiu com as suas tralhas nas costas e eu peguei o meu celular e fui em direção a caverna para fotografar as gravuras.Fotografei todas e para minha surpresa,havia algumas novas e que retratavam um homem à cavalo,uma em que o homem estava enfermo e outra em que o mesmo homem escrevia um livro...Fiquei ali sentado por muitas horas e chorei por aquele homem tão íntegro,honesto e tão sozinho.Chorei por seus sonhos estarem enterrados naquelas sepulturas.Chorei por mim,pelos erros que cometi e dos quais não consigo me libertar.Chorei por só saber chorar,chorei por que ele me via como um amigo...
    Me levantei e fui para a outra caverna,mas não conseguia deixar de pensar nas últimas gravuras que o dr. Antônio havia feito na sequência da sua vida...De repente ele entra com vários peixes já limpos.Eram muitos peixes e ele me disse que pela manhã, os salgaria e deixaria que secassem nas pedras,assim não se perderiam,pois ele não tinha geladeira.O que me fez rir.Aquele noite comemos peixes fritos e batatas.Depois fomos dormir...
    De manhã,enquanto tomávamos café,ele me perguntou se eu estava com tudo pronto para escrever o livro.Eu afirmei e perguntei porque ele queria saber se estava tudo certo.Ele me disse que seus mantimentos estavam acabando,pois ele havia feito uma previsão de apenas ele comer,mas que acabou tendo de alimentar-me também.Por isso ele perguntou,pois teria que voltar á cidade e comprar mais provisões.Eu entendi e falei que arruamaria as minhas coisas imediatamente,pois ele queria sair pela manhã.Ficamos em silêncio e em seguida adormeci com o pensamento de aquela seria a minha última noite ali...
    Antes que o sol despontasse no horizonte,nós já estávamos descendo as montanhas.Eu montado no cavalo e ele puxando a mula.Todo o trajeto da caverna até ao meio dia,foi feito em silêncio e só paramos para comer um pouco.minutos depois nos colocamos em movimento,na direção da cidade e da civilização.Ou era o contrário?Não sei responder,pois eu só me dei conta do tempo em que eu fiquei nas montanhas,quando chegamos na mercearia,na manhã seguinte.Algumas pessoas vieram nos ver,a curiosidade era geral e ao entrarmos na mercearia,eu cumprimentei à todos e agradeci pela preocupação.Disse que cai e fraturei algumas costelas e que o meu amigo cuidou de mim.Percebi que o dr. Antônio havia se afastado para o canto do balcão,pois ele estava receoso por não saber mais conviver em sociedade,o que ele estava mais do que certo.Mas como eu dizia prá ele,um oi não mata ninguém,ainda mais ele sendo médico,o que o fazia rir e quando isto acontecia,eu me sentia de bem comigo mesmo,pois eu,naqueles trinta e seis dias que convivi com ele naquela caverna,pude perceber o quanto era dificil ele sorrir.Ele não tinha motivos prá rir.Ele não tinha amigos.Não tinha ninguém.Eu sei como é se sentir assim,por isso o compreendia tanto...
     Pedi à todos ali que não comentassem com ninguém sobre o dr. Antônio e onde ele morava.Contei sobre a sua vida e porque ele se mudou prás montanhas.Os moradores compreenderam e aceitaram o meu pedido de zelarem pela vida daquele misterioso homem das montanhas,o qual tinha uma alma maior do que ele mesmo...Pedi à ele que ficasse comigo na pensão,como meu hóspede por um dia e que na manhã seguinte,quando eu fosse embora,ele também subiria prás montanhas e continuaria a sua vida.Ele aceitou,nos despedimos do pessoal e fomos à uma barbearia.Eu precisava fazer a barba e o meu amigo,muito mais.Quando o barbeiro acabou de cortar o cabelo e fazer a barba do dr. Antônio,eu não o reconheci e ele estava surpreso com o que via no espelho.O meu amigo ficou mais novo uns dez anos e ele tinha apenas cinquenta e dois anos.No caminho até a pensão,passamos em uma loja e comprei roupas para o ele.Não que ele quisesse,mas eu insisti tanto,que não houve como não deixar que eu fizesse um agrado em forma de amizade.Passamos o dia todo conversando sobre o livro e eu pude perceber que a dona da pensão não tirava os olhos do dr. Antônio e eu disse que ia ao banheiro,pois havia muito tempo que eu não sentia o aconchego de uma casa.Minutos depois,eu voltei pisando de leve e vi que os dois estavam num papo muito bom e disse à eles que ia até a mercearia.Naquela hora só estava o dono no balcão e pedi uma coca-cola e enquanto a bebia,falei pro merceeiro que toda compra que o dr. Antônio fizesse ali,seria pago por mim.Eu dei o número do meu celular prá ele e pedi que me ligasse e passasse o valor,que eu depositaria na conta dele.Acertamos tudo e eu voltei prá pensão.Tudo estava como eu deixei;o papo ainda continuava firme.Pensei que não passaria muito tempo e que meu amigo não estaria mais sozinho...
   Na manhã seguinte,depois das compras feitas e das minhas coisas estarem no carro,me despedi de todos ali e fui seguindo o meu amigo até a saída da cidade.Ao chegarmos no começo da trilha que vai às montanhas,parei o carro e fui até o dr. Antônio,aperteia as suas mãos tão calejadas e o abracei forte.Ficamos assim por alguns minutos e soube que ele chorava em silêncio e eu não estava diferente dele,pois a nossa amizade é verdadeira e sincera.Nos afastamos um pouco e eu fiz uma última pergunta referente ao que eu ia escrever;perguntei quem era quele homem descrito nas últimas gravuras...Ele me olhou por um momento e disse que era eu,o amigo que ele resgatou do fundo do poço e o qual ele cuidou como o médico que ele sempre foi...Eu o abracei novamente e prometi  que traria o livro para ele ler e que o visitaria algumas vezes,desde que ele me retornasse a visita.Ele aceitou e enquanto  subia pela trilha,fiquei encostado em meu carro,pensando em tudo o que passei naquelas montanhas,no valor de uma amizade que ninguém previa acontecer,mas que Deus permite o milagre da transformação da dor em esperanças.Ele havia me tirado do fundo do poço literalmente,pois há muito tempo que eu deixei de acreditar em certas amizades.E ele também sofreu mudanças,que em pouco tempo se confirmaria na vida dele e de uma certa senhora,dona de uma pensão em uma pequena cidade,que mais parece uma vila.
    Liguei o carro e acelerei forte em direção ao meu destino,pois teria muito o que fazer nos próximos meses.O meu maior dilema era com o título do livro...Poderia ser  “ O homem das montanhas ”,ou  “ Pedras que falam ”.Mas enquanto os kilômetros iam sendo vencidos,meus pensamentos estavam à toda velocidade e eu relembrei do sofrimento por que passou o meu amigo e tudo começou por que ele perdeu a sua esposa e a filhinha tão desejada por eles.Todos temos sonhos e se os sonhamos,é porque amamos.Toda história,por mais tristre que seja,existe amor.O amor é a base de tudo nesta vida e ele perdeu tudo o que tinha e por sentir tanta dor,se perdeu na vida e só conseguiu se encontrar na solidão daquelas montanhas...O título do livro será “ Não há limites para amar...!”
      Eu sempre escreverei sobre o amor,mesmo que ele  não seja meu companheiro e não faça parte da minha vida.Não importa,pois a vida é feita de amores.Sei que em todo lugar,haverá alguém amando e sendo amado.Ou alguém que sofre e ao ler o que escrevo,se identificará no que descrevo nas minhas histórias.As pedras podem falar,mas nem todos sabem perceber e ouvir as suas vozes.Naquilo que me inspiro prá escrever; “a arte imita a vida”,ou será que é o contrário?Apenas entendi que de tudo quanto o sábio aprendeu,nada se deixou escrito...Não há limites para amar ou para se escrever livros...!”

 23/07/2011                                                                                                                Nilo Mendes.

6 comentários:

  1. Boa tarde Nilo,ontem a noite fiquei a altas horas lendo suas cronicas esta é uma das que eu gostei,fiquei com vontade de conhecer este médico assim como voce ficou,linda história de vida!Continue sempre com este dom de escrever,Um grande beijo,fique bem !

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  2. Linda mesma né Joana?Estava em casa,perdido em minha solidão e de repente,me veio esta vontade de escrever algo de misterioso e ao mesmo tempo,realista e que pode acontecer em qualquer lugar e com qualquer um...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Obrigado Simone,por seu carinho contido em seu comentário!Sei o quanto gosta do que escrevo e sempre me incentiva a escrever mais...Fico feliz em saber que quem lê,também viaja como eu,no que escrevo...

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  5. eita crônica danada de boa sô ,linda ,linda parabéns e obrigado por me fazer ler crônicas tão lindas continue escrevendo meu amigo adoro !!

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  6. Eu também achei,pois consegui falar das montanhas do meu Estado e como eu escrevia,percebi a história nascendo...

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